segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Precisava de cores

"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor não conseguiu recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos".
(Machado de Assis - Dom Casmurro)



Eu queria, desejei muito e finalmente veio. Mas eu queria desse jeito, queria que chovesse essa chuva bem fininha. Dessas que molham com certa dificuldade, que vem no fim de tarde, com poucas nuvens, mas traz vento fresco.
Olho lá fora enquanto restauro aqui dentro. Quantas pessoas estão olhando para ela agora? Quantos estão agora admirando essa chuva bem fininha? Que me faz compreender o que é lavar a alma.
Mãe sempre tem dessas, "não vá se molhar, depois pega uma gripe e aí?!". E aí que valeu a pena mãe... Olhar pra ela, ver caindo as gotas, gotas bem fininhas...
Não quero ser reticente enquanto ainda posso falar. Até agora o som se propagava cada vez mais alto e nem por isso eu ouvia com mais clareza. E é difícil entender porque alguns gritam enquanto eu sussurro em seu ouvido as palavras mais doces que sei dizer. Sem intenção alguma passei a apreciar mais esse tempo, que muda constantemente e sempre traz um sabor novo e ultimamente bastante adocicado. E mesmo quando não é assim tão agradável, mesmo assim saboreio cada sensação.
Só não quero chegar ao final olhando para trás, por isso hoje não olho muito para frente. Tudo sempre estará muito além, assim atenho-me a essa sensação de agora, que pode nunca mais passar por aqui.
Não ligo de deixar um pedacinho de mim por onde passar, creio que essa é minha maneira de eternizar...

É bom ter aqui essa chuva, essa que quase não molha, essa chuva bem fininha, que cai colorindo tudo.

Um comentário:

  1. A chuva, não cai simplesmente por que deve, e sim por que é chegado o momento de cair.

    Nada é por acaso, tudo é o destino.

    Saudade de você miiiiiii
    :D
    tem ENEEAMB em FOZ este ano!! e eu VOU!!
    bj

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